sexta-feira, 7 de agosto de 2009

àquela hora


àquela hora

teve vergonha. foi para dentro. era uma menina. olhos e cabelos pretos, nariz arrebitado, franzina. todos os dias, àquela hora, vinha regar as plantas.
naquele dia ainda tinha de ir a casa da avó...e aqueles senhores agora, ali, com uma máquina esquisita apontada para ela.
que disparate de tempo perdido. que estariam eles a fazer ali?!... - perguntava em silêncio.
àquela hora não estava ninguém em casa. todos tinham ido trabalhar. só ela ali ficava. e a avó já devia estar à sua espera, mas ainda tinha de acabar de regar as plantas.
espreitou de novo. já se tinham ido embora. estavam mesmo ao fundo da rua, quase a desaparecer.
deitou, então, a água nas plantas, afagou-as com os seus deditos delicados e, fazendo aquele trejeito com o nariz que lhe era tão peculiar, foi buscar a cesta onde estava o lanche da avó. gostava de ir ver a avó. contava-lhe sempre histórias. daquelas que já não vinham nos livros.
desceu as escadas entoando a música da canção que ouvira nessa manhã na rádio. era bonita. tinha gostado.

(foto - à espreita, Diafragma)

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